A Noite Dissolve os Homens (por Drummond)

“A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos. E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam. A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. A noite caiu. Tremenda, sem esperança… Os suspiros acusam a presença negra que…

Aquela mulher do demo

Disponibilizei no post onde transcrevo o texto de Caso do Vestido o áudio da narração feita pelo próprio Drummond. Na narrativa grave de seu autor, sentimos pungentemente como a dona de longe, antes mergulhada em soberba, foi inteiramente desfalcada em nome do que fatalmente cede na continuidade do amor. “Eu não tinha amor por ele,…

Destruição (por Carlos Drummond de Andrade)

  “Os amantes se amam cruelmente e com se amarem tanto não se vêem. Um se beija no outro, refletido. Dois amantes que são? Dois inimigos. Amantes são meninos estragados pelo mimo de amar: e não percebem quanto se pulverizam no enlaçar-se, e como o que era mundo volve a nada. Nada, ninguém. Amor, puro…

Quero me casar (por Carlos Drummond de Andrade)

“Quero me casar na noite na rua no mar ou no céu quero me casar. Procuro uma noiva loura morena preta ou azul uma noiva verde uma noiva no ar como um passarinho. Depressa, que o amor não pode esperar!” (por Carlos Drummond de Andrade)

Enquanto houver Cecília…

A poesia nos espreita de perto e de longe. No caso do meu querido Quintana o vigiou desde muito cedo. Ainda quando criança a poesia o encarava do lado de fora do vidro por onde escorria a chuva que não molhou o seu rosto de menino crescido num aquário de janelas. Posteriormente o assolou nas…

Morrer… amar…

Morremos a todo instante. Nas pequenas e grandes desilusões da vida, nos imprevistos, contratempos, no não-negociável que nos cerca, no que há de incontornável em nossa condição, no a-Muro, no amoródio, no impossível da relação sexual. Morremos um pouco na solene ilusão do sexo, no circuito que se reabre inexoravelmente após os jorros amorosos evidenciando…

Dobrada à Moda do Porto (Por Álvaro de Campos)

  “Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário da cozinha Que a preferia quente, Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria. Impacientaram-se comigo. Nunca se pode ter razão, nem num restaurante. Não comi, não pedi outra…

A Chama (por Ascenso Ferreira)

“Na minha vida cruel e avara és irrequieta chama clara iluminando a solidão Porém repara bem, repara e vê se a  nada se compara o imenso horror desta aflição: Se acaricio a chama clara, a chama queima a minha mão!” (Por Ascenso Ferreira) * A Chama (Narrado por Paulo Autran)