O Elixir do Amor (fragmento)

“Belo repouso o do ceifeiro! Quando o sol mais ferve e escalda, sob uma faia, aos pés de uma colina, repousar e respirar!  O vivo ardor do meio-dia é apaziguado pelas sombras e pelos rios que correm; mas a chama ardente do amor nem sombra, nem rio podem apaziguar. Afortunado seja o ceifeiro que dele…

Os Dois Vigários (por Drummond)

“Há cinqüenta anos passados, Padre Olímpio bendizia, Padre Júlio fornicava. E Padre Olímpio advertia e Padre Júlio triscava. Padre Júlio excomungava quem se erguesse a censurá-lo e Padre Olímpio em seu canto antes de cantar o galo pedia a Deus pelo homem. Padre Júlio em seu jardim colhia flor e mulher num contentamento imundo. Padre…

Devagar, o Tempo…

“Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. O ódio transforma-se em tempo. O amor transforma-se em tempo. A dor transforma-se em tempo. Os assuntos que julgamos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo. Por si só, o tempo não é nada. A idade de nada é nada. A eternidade não existe. No entanto, a eternidade existe. Os instantes…

Calabar

“Meu coração tem um sereno jeito, E as minhas mãos o golpe duro e presto. De tal maneira que, depois de feito Desencontrado, eu mesmo me contesto. Se trago as mãos distantes do meu peito, É que há distância entre intenção e gesto. E se o meu coração nas mãos estreito, Me assombra a súbita…

Tristeza no Céu (por Carlos Drummond de Andrade)

“No céu, também, há uma hora melancólica Hora difícil em que a dúvida penetra as almas Por que fiz o mundo? Deus se pergunta e se responde: “Não sei” Os anjos olham-no com reprovação e plumas caem Todas as hipóteses A graça, a eternidade, o amor, caem São plumas Outra pluma, o céu se desfaz…

José, para onde?

Em ao menos dois intensos e pungentes momentos o grande itabirano viu-se encarnado em sua emblemática e imaginária figura José. Há um José em cada canto de nossa vida. De cada curva de nossa alma José nos espreita com olhos bem abertos sussurrando-nos em voz incompreensível sobre as recorrências da falência das lavras de ouro…

No meio do caminho… (por Carlos Drummond de Andrade)

“No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no…

Achando o Amor

Paulo Mendes Campos é de uma safra especial de cronistas, daqueles que pelas urgências do estômago acabaram por se tornar um mestre nesse estilo com peculiaridades tão nacionais. Amigo de Quintana, Vinícius, Drummond, Bandeira e demais gigantes intelectuais de sua geração, deixou-nos um legado de verdadeiros mapas existenciais de nossas mais secretas e contraditórias veredas….

Morrer… amar…

Morremos a todo instante. Nas pequenas e grandes desilusões da vida, nos imprevistos, contratempos, no não-negociável que nos cerca, no que há de incontornável em nossa condição, no a-Muro, no amoródio, no impossível da relação sexual. Morremos um pouco na solene ilusão do sexo, no circuito que se reabre inexoravelmente após os jorros amorosos evidenciando…

Tristeza em Londres, Tristeza no Mundo

A ode escrita pelo Poeta do Capibaribe foi dedicada ao seu amigo Jayme de Aragon y Ovalle (grafado com “i” na versão final do poema). No entanto as palavras imortais se aplicam a todos os que se empenham em viagens perdidas para desertos inóspitos, imensos e tristes.   ESPARSA TRISTE (Por Manuel Bandeira) “Jaime Ovalle,…