Carta 36 (de Fernando Pessoa a Ophélia de Queiroz)

Ophelinha, Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa – o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos,…

(Minha) Carta ao Tom

Tom, querido, saudades. Como bem lembras (visto que morte nossa é coisa que não ocorre sem nós) há exatos dezenove anos deixavas esse mundo. Sem Internet ou celulares, em 1994 a vida não era instantânea, não vibravam em nossos bolsos as últimas notícias sobre nada e o importante tudo nos chegava, dias depois, por jornais,…

Vinícius: Poeta do Encontro (por Otto Lara Resende)

“Homem de bem com a vida, a favor da vida. A quem a vida nada se nega a vida. Criador de um lirismo em prosa e verso, falado e cantado, e sempre de exaltação a vida. A canção em Vinicius nasce de um encontro não vem de um conflito. Encontro consigo mesmo, com o outro,…

Fotobiografia dos Anos de Exílio de Fernando Pessoa

“A minha infância decorreu serena (…), recebi uma boa educação. Mas, desde que tenho consciência de mim mesmo, apercebi-me de uma tendência nata em mim para a mistificação, para a mentira artística. Junte-se a isto um grande amor pelo espiritual, pelo misterioso, pelo obscuro, que, ao fim e ao cabo, não era senão uma forma…

Dia dos Pais com Drummond

VIAGEM NA FAMÍLIA (Escrito e Narrado por Carlos Drummond de Andrade) “No deserto de Itabira a sombra de meu pai tomou-me pela mão. Tanto tempo perdido. Porém nada dizia. Não era dia nem noite. Suspiro? Vôo de pássaro? Porém nada dizia. Longamente caminhamos. Aqui havia uma casa. A montanha era maior. Tantos mortos amontoados, o…

Futebol, rasteiras e política (por Graciliano Ramos)

Pensa-se em introduzir o futebol, nesta terra. É uma lembrança que, certamente, será bem recebida pelo público, que, de ordinário, adora as novidades. Vai ser, por algum tempo, a mania, a maluqueira, a idéia fixa de muita gente. Com exceção talvez de um ou outro tísico, completamente impossibilitado de aplicar o mais insignificante pontapé a…

Zaratustra

“E Zaratustra parou e pensou. Finalmente, disse, entristecido: ‘TUDO ficou menor!’. Em todos os lugares, vejo portões mais baixos: quem é do MEU porte provavelmente ainda consegue passar, mas – terá de se curvar!… Ando por entre esse povo mantendo os olhos abertos: eles se tornaram menores e ficam cada vez menores: – NISSO, CONTUDO,…

Eu, etiqueta (por Carlos Drummond de Andrade)

“Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome… estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas…