Tempo de Carnaval, Restos de Cronos

Herdamos dos gregos (na leitura que deles fizeram os filósofos do medievo) a noção que guardamos de tempo e seus atributos necessariamente quantificáveis, métricos, mensuráveis. No dia-após-dia, residência do tédio conforme o Rei Macbeth, o tempo transcorre como coisa material que se perde e se gasta, imagem cuja metáfora primordial é uma ampulheta com seus…

Aos Namorados do Brasil (por Drummond)

“Dai-me, Senhor, assistência técnica para eu falar aos namorados do Brasil. Será que namorado algum escuta alguém? Adianta falar a namorados? E será que tenho coisas a dizer-lhes que eles não saibam, eles que transformam a sabedoria universal em divino esquecimento? Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa, quando perdem os olhos para toda paisagem , perdem…

Futebol dos Filósofos

Do fundo do baú do genial grupo inglês Monty Python vem essa esquete que expressa maravilhosamente o que aqui já se disse sobre o Satiricômico. Demonstra também que a bola, como já disse um jornalista, corre mais que os homens, mais que todos os homens.

O Homem de Cabeça de Papelão (por João do Rio)

“No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social. O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os…

João Passarinheiro (por Mia Couto)

“Inquirido sobre a sua raça, respondeu: – A minha raça sou eu, João Passarinheiro. Convidado a explicar-se, acrescentou: – Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor polícia. (Extracto das declarações do vendedor de pássaros).” O excerto acima, narrado pelo fictício João Passarinheiro, foi criado pela…

Viver! (por Machado de Assis)

Tenho a felicidade de pagar agora, com o preço do meu escasso tempo, um dos muitos cheques sem fundo que emiti desde a abertura deste blog. Explico-me: prometi há tempos fazer referência aos meus orixás de cabeça, aqueles que sustentam ela e todo o restante do corpo quando os ventos cotidianos os ameaçam tombar. Faltava…

Destruição (por Carlos Drummond de Andrade)

  “Os amantes se amam cruelmente e com se amarem tanto não se vêem. Um se beija no outro, refletido. Dois amantes que são? Dois inimigos. Amantes são meninos estragados pelo mimo de amar: e não percebem quanto se pulverizam no enlaçar-se, e como o que era mundo volve a nada. Nada, ninguém. Amor, puro…

Flechas, humor, amor

Flechas e humor. Flechas no coração de sofredor de todos os que sangram solidão amorosa. “Il n’y a pas de rapport sexuel”, poucas vezes na história foram pronunciadas palavras tão sábias, Lacan sabia mesmo das coisas. Isso ilumina o mundo e nossa condição. Humor sobre nossa condição tão contradita como véu sobre e no masoquismo…

2010

Chovo eu também, bem aqui, em tema já tão molhado: um balanço do ano que quase finda. Iniciar este blog foi um dos projeto mais bem sucedidos de um ano atarefado e cheio de bons concorrentes disputando este posto. A empreitada superou qualquer boa expectativa que eu pudesse ter eventualmente estabelecido de início (coisa que…

…de Emília e de todos nós.

“[…] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria os filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre. – E…