Não há somente beleza na afirmação de Platão de que “o tempo é a imagem móvel da eternidade”. Há também, nessa postulação de capital importância, a menor síntese do ocidente em seu percurso oscilante entre uma e outra proposta de organização do mundo. Quando diz Platão que o tempo em seu devir é cópia, simulacro…
Categoria: Amor, Ódio e Ignorância
O Amor e as Abelhas
“Com as coisas podemos comportar-nos sem amor: podemos cortar árvores, fazer tijolos, forjar aço sem amor; mas com seres humanos não podemos comportar-nos sem amor, assim como não podemos lidar sem precaução com as abelhas” (Ressurreição – Liev Tolstói)
Carta 36 (de Fernando Pessoa a Ophélia de Queiroz)
Ophelinha, Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa – o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos,…
Lira do Amor Romântico ou A Eterna Repetição (por Carlos Drummond de Andrade)
Atirei um limão n’água e fiquei vendo na margem. Os peixinhos responderam: Quem tem amor tem coragem. Atirei um limão n’água e caiu enviesado. Ouvi um peixe dizer: Melhor é o beijo roubado. Atirei um limão n’água, como faço todo ano. Senti que os peixes diziam: Todo amor vive de engano. Atirei um limão n’água,…
Herói
Ao contrário da era de luzes que anunciaram os iluministas, entramos na era da estupidez, da demagogia, da cafonice intelectual, da burrice como mérito e da criação de um imenso rebanho humano. Nietzsche acertou todas as suas previsões: em todos os tempos houveram intranquilos, embusteiros, desqualificados, mas em nenhuma outra época a má índole se…
(Minha) Carta ao Tom
Tom, querido, saudades. Como bem lembras (visto que morte nossa é coisa que não ocorre sem nós) há exatos dezenove anos deixavas esse mundo. Sem Internet ou celulares, em 1994 a vida não era instantânea, não vibravam em nossos bolsos as últimas notícias sobre nada e o importante tudo nos chegava, dias depois, por jornais,…
O Anel de Vidro (por Manuel Bandeira)
“Aquele pequenino anel que tu me deste, – Ai de mim – era vidro e logo se quebrou… Assim também o eterno amor que prometeste, – Eterno! era bem pouco e cedo se acabou. Frágil penhor que foi do amor que me tiveste, Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, – Aquele pequenino anel que…
A Morte pelo Rádio
Amanhã participarei do programa Conexão UFPE Saúde para debater o tema “O Homem e sua Finitude”. O programa será ao vivo, das 13h às 14h, nesta sexta-feira (01/11) na Rádio Universitária FM (99.9) e pode ser acompanhado pela Internet. Comigo estarão Evaldo Coutinho, James Joyce, Martin Heidegger, Sigmund Freud e Carlos Drummond de Andrade. Preparem…
Baleia (por Graciliano Ramos)
“A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de…
Fotobiografia dos Anos de Exílio de Fernando Pessoa
“A minha infância decorreu serena (…), recebi uma boa educação. Mas, desde que tenho consciência de mim mesmo, apercebi-me de uma tendência nata em mim para a mistificação, para a mentira artística. Junte-se a isto um grande amor pelo espiritual, pelo misterioso, pelo obscuro, que, ao fim e ao cabo, não era senão uma forma…