Clareia Cinzenta a Noite de Chuva (por Fernando Pessoa)

“Clareia cinzenta a noite de chuva, Que o dia chegou. E o dia parece um traje de viúva Que já desbotou. Ainda sem luz, salvo o claro do escuro, O céu chove aqui, E ainda é um além, ainda é um muro Ausente de si. Não sei que tarefa terei este dia; Que é inútil…

Chuva com Lembranças (por Cecilia Meireles)

Um mimo meirelesco a todos os que, como eu, vêem ressurgir das vielas escuras da memória, arrastadas por torrentes de chuvas, antigas lembranças que ainda nos assombram de perto ou de longe.

Chove. Que Fiz Eu da Vida? (por Fernando Pessoa)

“Chove. Que fiz eu da vida? Fiz o que ela fez de mim… De pensada, mal vivida… Triste de quem é assim! Numa angústia sem remédio Tenho febre na alma, e, ao ser, Tenho saudade, entre o tédio, Só do que nunca quis ter… Quem eu pudera ter sido, Que é dele? Entre ódios pequenos…

O Dia Deu em Chuvoso (por Fernando Pessoa)

“O dia deu em chuvoso. A manhã, contudo, esteve bastante azul. O dia deu em chuvoso. Desde manhã eu estava um pouco triste. Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma? Não sei: já ao acordar estava triste. O dia deu em chuvoso. Bem sei, a penumbra da chuva é elegante. Bem sei: o sol oprime, por ser tão…

Chove? Nenhuma Chuva Cai… (por Fernando Pessoa)

“Chove? Nenhuma chuva cai… Então onde é que eu sinto um dia Em que ruído da chuva atrai A minha inútil agonia ? Onde é que chove, que eu o ouço? Onde é que é triste, ó claro céu? Eu quero sorrir-te, e não posso, Ó céu azul, chamar-te meu… E o escuro ruído da…

Chove. Há Silêncio. (por Fernando Pessoa)

“Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva Não faz ruído senão com sossego. Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva Do que não sabe, o sentimento é cego. Chove. Meu ser (quem sou) renego… Tão calma é a chuva que se solta no ar (Nem parece de nuvens) que parece Que não é…