Poema da Gare do Astapovo (por Mario Quintana)

“O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos E foi morrer na gare de Astapovo! Com certeza sentou-se a um velho banco, Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo, Contra uma parede nua… Sentou-se… e sorriu amargamente Pensando que Em toda a sua vida…

Ai de ti, ó velho mar profundo…

Após as três derrotas sofridas na concorrência por uma desejada vaga na ABL (em todas elas perdendo a indicação para poetas sem poesia pelo dedaço de algum agente político), Quintana escreve seu Poeminha do Contra. Acossado por jornalistas sem notícia que insistiam em colocar o dedo na ferida o grande alegretense repete seu movimento de…

Dorme ruazinha… é tudo escuro… (por Mario Quintana)

“Dorme ruazinha… É tudo escuro… E os meus passos, quem é que pode ouvi-los? Dorme teu sono sossegado e puro, Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos… Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro… Nem guardas para acaso perseguí-los… Na noite alta, como sobre um muro, As estrelinhas cantam como grilos… O vento está dormindo…

Psicanálise em Ondas

Fran Lebowitz, a escritora estadunidense que já possui o cômico inscrito nas entrelinhas de seu nome (witz é a palavra que o velho Freud, no seu alemão vernáculo, escolheu para se referir aos chistes como produções do Inconsciente) é autora de diversos atropelos cômicos. Atropelo é uma expressão de Lacan, que no seu seminário 5…

A Gente Ainda não Sabia… (por Mario Quintana)

“A gente ainda não sabia que a Terra era redonda. E pensava-se que nalgum lugar, muito longe, Deveria haver num velho poste uma tabuleta qualquer – uma tabuleta meio torta E onde se lia em letras rústicas: FIM DO MUNDO. Ah! depois nos ensinaram que o mundo não tem fim E não havia remédio senão…

Fragmento de Nova Antologia Poética (por Quintana)

“Oh! aquele menininho que dizia “Fessora, eu posso ir lá fora?” Mas apenas ficava um momento Bebendo o vento azul… Agora não preciso pedir licença a ninguém. Mesmo porque não existe paisagem lá fora: Somente cimento. O vento não mais me fareja a face como um cão amigo… Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.”

Poeminha Sentimental (por Mario Quintana)

“O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas… De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!) Canta e vai-se embora Outra, nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô…

Aula Inaugural no São João (Borges e Quintana)

Para Quintana, poeta e menino de aquário protegido como eu dos ruídos desse mundo intenso, a dança, como a poesia, apresentava-se como um luzeiro de esperança no oco do tenebroso da existência. Ritmo e poesia acendiam-se iluminando uma vereda na contramarcha do abismo. Somados, dança e verso (em sua tradição eminentemente oral) encontramos a música….

1938

Quando estudava Diplomacia em Londres, o poeta Vinícius de Moraes escreveu uma amargurada missiva à sua então noiva Tati de Moraes falando de seu confinamento na fria Inglaterra dos anos 30. Para o poeta, sua estadia era mais que um isolamento: era um cativeiro sombrio quase impossível de ser suportado longe das insígnias pátrias que…