Jayme Ovalle

Algumas figuras queridas, dessas que iluminam a noite em que a humanidade (e em particular a brasilidade) se afunda possuem menções desmerecidamente resumida por este blog. É certo que o tempo haverá de fazer justiça a estes amigos e que assim que eu me desvencilhar de um par de atribuições eles serão evocados com o vigor de deidades nesse terreno litural. Jayme Ovalle é um desses nomes e me ocorrem agora (sem nenhum esforço de esgotar a lista) Noel Rosa, Nelson Rodrigues e Machado de Assis. Hoje ao acordar fui visitado (bela imagem usada por Freud em sua primeira viagem à grécia para se referir a um modo específico de recordação) por um belo poema de Bandeira sobre seu amigo Ovalle e que trago ao final dessa postagem. Ovalle é uma figura singular na história da intelectualidade brasileira (hoje a verdadeira minoria, carente de qualquer atenção ou subsídios do Estado), um homem de uma exígua obra registrada e, ao mesmo tempo, autor de uma obra gigantesca inscrita na sua e na vida dos seus privilegiados companheiros. Suas maiores virtudes (genialidade, doçura e humanidade) se deixa evidenciar mais pela indelével influencia com que marcou Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Drummond, Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Murilo Mendes e Fernando Sabino (apenas para citar os mais frequentes). Sobre seu poder influenciador há o famoso dito de Dante Milano de que a inspiração tem nome e responde por Jayme Ovalle. Belos fragmentos, efeito de conversas em deliciosas bebedeiras com mulatas ao colo, são captados nas obras dos nossos maiores gigantes intelectuais e que fazem de Ovalle um mito inclassificável (como elogiou Drummond). Voltarei a falar posteriormente na Nova Gnomonia e num ou noutro delicioso caso em que se envolveu. Não me alongarei com medo de sentir que com esse post já paguei minha dívida, prefiro pensar (deixando meus ocasionais leitores com a curiosidade atiçada) que aumentei a despesa. Abaixo um poema gratidão do meu querido Bandeira, narrado por si próprio, ainda sob o efeito declarado por Milano.

Poema Só para Jayme Ovalle

“Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando…
– Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.”

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