PoemAnálise

“As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras;” disse Guimarães Rosa em uma rara entrevista. Para mim seus livros são grandes aventuras, imensas, mas não as maiores. Para mim a maior das aventuras não está no que leio, mas no que escuto. São a grande Jornada. Nesse meu ofício de escutar vivo mil vidas e a cada sessão descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo diariamente no infinito, suspenso, flutuando em um ofício em que minha história não conta, mas somente o tempo e as palavras dos analisantes. Vou lhes contar um segredo: cada paciente é um poema, um poema a ser lido. Um poema às vezes concreto, às vezes metafísico, às vezes rimado, às vezes aliterado, mas sempre carregado de enigmas e obscuridades. Para um analista habilidoso, cada palavra carreia consigo um oceano, um mar inteiro de possibilidades e o que é uma análise senão uma saída da superfície encrespada desse oceano e um mergulho nas profundezas onde tudo é tranquilo e escuro? Acho que um Psicanalista é uma espécie de crocodilo. Sim, um crocodilo. Desses que com seus dentes conduzem os navegantes para as profundezas. Isso, o analista é um crocodilo: um crocodilo que morde a eternidade.

2 comentários Adicione o seu

  1. Graca disse:

    Muito boa sua percepção , Pedro Gabriel. Eu me identifico com suas palavras. Como astróloga ouço muitas história de tons e cores diversas, cada uma delas me faz olhar pra dentro de mim mesma e percebo como tudo está entrelaçado. Somos elo de uma só corrente, o que acontece a um, vibra no universo como um todo.
    Desculpem, acho que falei demais.
    Parabenizo ao Pedro Gabriel.

    1. Pedro Gabriel disse:

      Obrigado, Graça. Se você usar o Instagram nos siga em nosso perfil @psicanaliserecife

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