No meio do caminho… (por Carlos Drummond de Andrade)

“No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no…

O Lutador (por Carlos Drummond de Andrade)

“Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à…

Viver! (por Machado de Assis)

Tenho a felicidade de pagar agora, com o preço do meu escasso tempo, um dos muitos cheques sem fundo que emiti desde a abertura deste blog. Explico-me: prometi há tempos fazer referência aos meus orixás de cabeça, aqueles que sustentam ela e todo o restante do corpo quando os ventos cotidianos os ameaçam tombar. Faltava…

O Mito (por Drummond)

  O Mito [Escrito e Narrado por Carlos Drummond de Andrade] by lituraterre “Sequer conheço Fulana, vejo Fulana tão curto Fulana jamais me vê, mas como eu amo Fulana. Amarei mesmo Fulana? ou é ilusão de sexo? talvez a linha do busto, da perna, talvez o ombro. Amo Fulana tão forte, amo Fulana tão dor,…

O meu próprio Rio

Resido num condomínio de nome gracioso: Morada dos Rios. A cada bloco compete o nome de um rio europeu célebre: Danúbio, Tamisa, Sena, Tejo e (o mais longo rio europeu onde reino silencioso lá do topo da pequena torre de nome) Volga. São estruturas de concreto que se tornaram significantes de algumas das maiores belezas…

Lisbon Revisited (por Fernando Pessoa)

  “Não: não quero nada. Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. Não me tragam estéticas! Não me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas Das ciências (das ciêricias, Deus meu, das ciências!)— Das ciências, das artes,…

O Rio (por Guimarães Rosa)

Em visita recente ao Brasil a fim de promover seu mais recente livro de contos, arguido sobre qual a melhor narrativa curta lida em nosso vernáculo o escritor moçambicano Mia Couto respondeu que o texto abaixo é o melhor conto que já lera em qualquer idioma. Resistirei com a bravura à tentação de criar uma…

O Rio (por Manuel Bandeira)

Abaixo apresento aos meus leitores um outro rio. Não o rio espinha de peixe com padrão duro de poeta pretensa e mentirosamente anti-lírico, mas rio caudaloso de lirismo sobressalente e assumido. Em seu “Poética”, Manuel Bandeira se diz farto do lirismo comedido e bem comportado apelidado ironicoepifanicamente de “lirismo funcionário público com livro de ponto…

O Rio (por João Cabral de Melo Neto)

De uma recitação fluente e ritmada como o é o fluxo do rio, apresento João Cabral de Melo Neto, um dos maiores poetas de nosso e de todos os idiomas. Cabral é duro como a Pedra que sempre cantou. Dono de uma impertinente dor de cabeça que (em caráter emblemático) só o deixaria dormir em…

Dois depoimentos sobre a lágrima nordestina

Toninho Vaz (“Pra mim chega: a biografia de Torquato Neto” – Ed. Casa Amarela) [Em 1979] (…) “, Caetano compõe e grava Cajuína, escrita depois de uma visita a doutor Heli, em Teresina, que lhe deu a rosa pequenina colhida no jardim da casa, na Coelho de Resende. Sobre esse encontro, doutor Heli diria: “O…