Chovo eu também, bem aqui, em tema já tão molhado: um balanço do ano que quase finda. Iniciar este blog foi um dos projeto mais bem sucedidos de um ano atarefado e cheio de bons concorrentes disputando este posto. A empreitada superou qualquer boa expectativa que eu pudesse ter eventualmente estabelecido de início (coisa que…
Mês: dezembro 2010
Paidos Agogé
“O filho que não fiz hoje seria homem, ele corre na brisa sem carne e sem nome”, diz Drummond em “Ser”. Em verdade o filho ao qual faz referência, o tal “que viveu meia hora”, foi feito e desfeito no intervalo cruel e breve de trinta minutos. Meia hora sob o céu deste estranho…
Ser (por Drummond)
“O filho que não fiz hoje seria homem. Ele corre na brisa, sem carne, sem nome. As vezes o encontro num encontro de nuvem. Apoia em meu ombro seu ombro nenhum. Interrogo meu filho, objeto de ar: em que gruta ou concha quedas abstrato? Lá onde eu jazia, responde-me o hálito, não me percebeste, contudo…
Pré-virada (por Quino)
(Mafalda, como já dito neste Blog, é criação genial do cartunista argentino Quino)
O Fantasma de Arcoverde
Um relâmpago me atinge bem agora em algum canto verde da alma. Chega um momento na vida de um homem em que ele simplesmente senta numa poltrona e se dá por recordar (Drummond again). O relâmpago é imagem desse movimento inevitável que des-esquece coisas dentro de nós iluminando cantos sombrios. Em meu caso o canto…
…de Emília e de todos nós.
“[…] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria os filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre. – E…
Velho Olhando o Mar (por Affonso Romano de Sant’Anna)
Para os que, como eu, acordam todos os dias aflitos com o limitado estoque da vida (já citando o homenageado do post) esvaindo-se tempo a fora, presenteio com essa crônica-tesouro narrada pela voz do próprio autor: o mineiro Affonso Romano de Sant’Anna. Que envelheçamos com dignidade ajuntando marés interiores a serem futuramente recordadas. Affonso…
Relva Verde Relva (por Ferreira Gullar)
“Dentro de mim – mas onde? no céu da boca? debaixo da pele? – fulge de repente um largo verde esquecido dentro de mim ou fora (em algum lugar nenhum) de mim um largo como se fosse um lago e quase a transbordar de verde ouvia a miúda algazarra da relva rente ao chão ah…
Noite (in)Feliz
Natal: o carnaval dos ruídos. Minha alma cobriu aterrorizada seus castigados ouvidos primeiro diante das declarações que proclamam uma espécie de leilão de best wishes e depois (agora mesmo, pra ser mais preciso) ante o alarido dos rojões soltados à minha janela e que me privam do merecido sono que adiará por mais um ano…
E não gostavas de festa…
“Teu olho cansado fitava-nos alma adentro (…) e via essa lama podre (…) sabendo que toda carne aspira a sua degradação. (…) E o desejo muito simples de pedir à mãe que cosa, mais do que nossa camisa, nossa alma frouxa, rasgada… Beber. Beber é pois ato tão sagrado que só bebido meu mano me…