“Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.”
(Poema: Carlos Drummond de Andrade
Pintura: Magritte – La Reconnaissance Infinie, 1963)
Me identifico plenamente com aquele pedaço que diz “Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.” 🙂
Realmente Drummond nos deixou muito com o que nos identificarmos em sua poesia imensa. Obrigado pelo comentário.
Essa sempre será a poesia da minha vida.
Olá camarada, grato pela visita e pelo comentário. Fique à vontade e sinta-se “lituralmente” em casa.