E não gostavas de festa…

“Teu olho cansado fitava-nos alma adentro (…) e via essa lama podre (…) sabendo que toda carne aspira a sua degradação. (…) E o desejo muito simples de pedir à mãe que cosa, mais do que nossa camisa, nossa alma frouxa, rasgada… Beber. Beber é pois ato tão sagrado que só bebido meu mano me…

Poema (anti)Natalino (por Fernando da Mota Lima)

SONHO DE NATAL Quem te sonhou assim outro Natal Outro modo de amor, outro endereço Um bem além do bem, além do mal A luz que é força cega e não mereço? Quem ousara dizer o que não digo E entanto insone fala pelo avesso As coisas que ao dizer que te não digo Bem…

Morrer… amar…

Morremos a todo instante. Nas pequenas e grandes desilusões da vida, nos imprevistos, contratempos, no não-negociável que nos cerca, no que há de incontornável em nossa condição, no a-Muro, no amoródio, no impossível da relação sexual. Morremos um pouco na solene ilusão do sexo, no circuito que se reabre inexoravelmente após os jorros amorosos evidenciando…

Poesia: principal passagem para Pasárgada

  O jovem Manuel Bandeira – Fonte: Condomínio dos proprietários dos direitos de imagem de Manuel Bandeira A poesia traz a promessa do prazer. É fatal: poesia é antes de qualquer outra coisa fruição. Palavras ecorrendo da boca como o mel respingando dos favos. Em Bandeira (e em mais alguns outros Poetas Maiores) ela é…

Epígrafe (por Manuel Bandeira)

“Sou bem-nascido. Menino, Fui, como os demais, feliz. Depois, veio o mau destino E fez de mim o que quis. Veio o mau gênio da vida, Rompeu em meu coração, Levou tudo de vencida, Rugia e como um furacão, Turbou, partiu, abateu, Queimou sem razão nem dó – Ah, que dor! Magoado e só, –…

Ama, bebe e cala…

Tão cedo passa tudo quanto passa! Morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.   (Escrito por Fernando Pessoa usando a casca de Ricardo Reis no terceiro dia do ano de 1923)

Poesia é pra essas coisas

O mundo é grande – nos lembra incessantemente Drummond – e nosso coração, ao contrário do que ele próprio imaginava na infância, não é maior que o este (o mundo). É tão menor, tão pequeno, que sequer pode conter adequadamente as dores que lhe cabem. O mundo é grande, mas infeliz e ironicamente muito pequeno…

Tristeza no Céu (por Drummond)

  “No céu, também, há uma hora melancólica Hora difícil em que a dúvida penetra as almas Por que fiz o mundo? Deus se pergunta e se responde: “Não sei” Os anjos olham-no com reprovação e plumas caem Todas as hipóteses A graça, a eternidade, o amor, caem São plumas Outra pluma, o céu se…

Tristeza em Londres, Tristeza no Mundo

A ode escrita pelo Poeta do Capibaribe foi dedicada ao seu amigo Jayme de Aragon y Ovalle (grafado com “i” na versão final do poema). No entanto as palavras imortais se aplicam a todos os que se empenham em viagens perdidas para desertos inóspitos, imensos e tristes.   ESPARSA TRISTE (Por Manuel Bandeira) “Jaime Ovalle,…

D’O Guardador de Rebanhos

(Trecho de “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro – Fernando Pessoa, ilustração de autoria não localizada)