No meio do caminho… (por Carlos Drummond de Andrade)

“No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no…

O Lutador (por Carlos Drummond de Andrade)

“Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à…

Viver! (por Machado de Assis)

Tenho a felicidade de pagar agora, com o preço do meu escasso tempo, um dos muitos cheques sem fundo que emiti desde a abertura deste blog. Explico-me: prometi há tempos fazer referência aos meus orixás de cabeça, aqueles que sustentam ela e todo o restante do corpo quando os ventos cotidianos os ameaçam tombar. Faltava…

O meu próprio Rio

Resido num condomínio de nome gracioso: Morada dos Rios. A cada bloco compete o nome de um rio europeu célebre: Danúbio, Tamisa, Sena, Tejo e (o mais longo rio europeu onde reino silencioso lá do topo da pequena torre de nome) Volga. São estruturas de concreto que se tornaram significantes de algumas das maiores belezas…

O Rio (por Guimarães Rosa)

Em visita recente ao Brasil a fim de promover seu mais recente livro de contos, arguido sobre qual a melhor narrativa curta lida em nosso vernáculo o escritor moçambicano Mia Couto respondeu que o texto abaixo é o melhor conto que já lera em qualquer idioma. Resistirei com a bravura à tentação de criar uma…

O Rio (por Manuel Bandeira)

Abaixo apresento aos meus leitores um outro rio. Não o rio espinha de peixe com padrão duro de poeta pretensa e mentirosamente anti-lírico, mas rio caudaloso de lirismo sobressalente e assumido. Em seu “Poética”, Manuel Bandeira se diz farto do lirismo comedido e bem comportado apelidado ironicoepifanicamente de “lirismo funcionário público com livro de ponto…

2010

Chovo eu também, bem aqui, em tema já tão molhado: um balanço do ano que quase finda. Iniciar este blog foi um dos projeto mais bem sucedidos de um ano atarefado e cheio de bons concorrentes disputando este posto. A empreitada superou qualquer boa expectativa que eu pudesse ter eventualmente estabelecido de início (coisa que…

Paidos Agogé

  “O filho que não fiz hoje seria homem, ele corre na brisa sem carne e sem nome”, diz Drummond em “Ser”. Em verdade o filho ao qual faz referência, o tal “que viveu meia hora”, foi feito e desfeito no intervalo cruel e breve de trinta minutos. Meia hora sob o céu deste estranho…

O Fantasma de Arcoverde

Um relâmpago me atinge bem agora em algum canto verde da alma. Chega um momento na vida de um homem em que ele simplesmente senta numa poltrona e se dá por recordar (Drummond again). O relâmpago é imagem desse movimento inevitável que des-esquece coisas dentro de nós iluminando cantos sombrios. Em meu caso o canto…

…de Emília e de todos nós.

“[…] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria os filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre. – E…