O Amor Acaba (por Paulo Mendes Campos)

“O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o…

Breve história do trigo e da falsidade

  A curiosa história do sagrado grão comporta alguns fatos pitorescos. Boa parte deles no Brasil. Por razões comerciais (dessas que aqueles que, não tendo estômago de aço, preferem jantar a compreender), entre as décadas de 30 e 40 era proibida, nos Trópicos Incompreensíveis, a fabricação de pão de puro trigo. Um Decreto-Lei (cito o decreto…

O meu próprio Rio

Resido num condomínio de nome gracioso: Morada dos Rios. A cada bloco compete o nome de um rio europeu célebre: Danúbio, Tamisa, Sena, Tejo e (o mais longo rio europeu onde reino silencioso lá do topo da pequena torre de nome) Volga. São estruturas de concreto que se tornaram significantes de algumas das maiores belezas…

Achando o Amor

Paulo Mendes Campos é de uma safra especial de cronistas, daqueles que pelas urgências do estômago acabaram por se tornar um mestre nesse estilo com peculiaridades tão nacionais. Amigo de Quintana, Vinícius, Drummond, Bandeira e demais gigantes intelectuais de sua geração, deixou-nos um legado de verdadeiros mapas existenciais de nossas mais secretas e contraditórias veredas….

Velho Olhando o Mar (por Affonso Romano de Sant’Anna)

Para os que, como eu, acordam todos os dias aflitos com o limitado estoque da vida (já citando o homenageado do post) esvaindo-se tempo a fora, presenteio com essa crônica-tesouro narrada pela voz do próprio autor: o mineiro Affonso Romano de Sant’Anna. Que envelheçamos com dignidade ajuntando marés interiores a serem futuramente recordadas.   Affonso…

Morrer… amar…

Morremos a todo instante. Nas pequenas e grandes desilusões da vida, nos imprevistos, contratempos, no não-negociável que nos cerca, no que há de incontornável em nossa condição, no a-Muro, no amoródio, no impossível da relação sexual. Morremos um pouco na solene ilusão do sexo, no circuito que se reabre inexoravelmente após os jorros amorosos evidenciando…

Aula de Inglês (Crônica de Rubem Braga)

—  Is this an elephant? Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior…