“Lendo os grandes escritores da literatura universal, não raro nos deparamos com personagens de quem se diz que são psicólogos. Os próprios autores o dizem, os próprios criadores desses personagens. Não que tenham sido formados na ciência psicológica, não que tenham feito qualquer espécie de graduação em psicologia. Dizer que são psicólogos é o mesmo que dizer que são figuras dotadas de sensibilidade especial para tudo o que é humano, leitores de entrelinhas, investigadores da alma – assim como esses próprios autores muitas vezes foram!
Essas reflexões vêm a própósito do seguinte: estou relendo “A vida como ela é…”, do nosso conterrâneo Nelson Rodrigues. O que vou dizer pode parecer banal, mas não é: as crônicas de “A vida como ela é…” são, realmente, histórias da vida como ela é. Não da vida como gostaríamos que fosse, senão justamente o oposto. E então pensei: tá aí, Nelson Rodrigues, um grande psicólogo. Mas não. Essa frase, antes elogiosa, hoje já não o é. É que o termo psicólogo é hoje inserido, tão logo ouvido, num outro campo semântico, bem diferente daquele de antigamente.
A culpa disso – se é que se pode falar de culpa nesse caso – não está nos ouvidos de quem escuta. O fato é que, hoje, o psicólogo não é mais um perscrutador da alma humana – digamos assim, na falta de expressão melhor. Transformou-se num replicador de técnicas, num adaptador social e, mais recentemente, num garantidor de direitos. Em que pesem as opiniões em contrário, eu preferia a antiga acepção.
Enfim, ainda procuro um elogio pro Nelson, que ele bem merece!”
[Pedro Xavier, a quem tenho o privilégio de frequentar pessoal e intelectualmente, é psicólogo, psicanalista, leitor de Dostoievski, Shakespeare, Pessoa, Drummond e (para não dizer só qualidades) ouvinte de Roberto Carlos].

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tenho certo fascínio por psicologia e também gosto de nelson rodrigues, então aí vai…