Os Dois Vigários (por Drummond)

“Há cinqüenta anos passados, Padre Olímpio bendizia, Padre Júlio fornicava. E Padre Olímpio advertia e Padre Júlio triscava. Padre Júlio excomungava quem se erguesse a censurá-lo e Padre Olímpio em seu canto antes de cantar o galo pedia a Deus pelo homem. Padre Júlio em seu jardim colhia flor e mulher num contentamento imundo. Padre…

Zorba: vida, morte e liberdade

Ontem, em conversa breve de corredor, uma alma generosa de fala macia tentou me consolar falando sobre o alívio que é terminar o mestrado. Posteriormente, digerindo seu convite à paciência, me recordei de uma leitura antiga que gravou na minha mente o que seria a imagem perfeita da liberdade. O fragmento é de “Zorba, o…

Procura da Poesia (por Drummond)

“Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile,…

O Silêncio em Três Poemas (por Drummond)

Folheando o “Discurso de Primavera e Algumas Sombras“, um livro indevidamente pouco recordado no conjunto geral da extraordinária poesia do meu querido Drummond, me deparei “casualmente” com o que chamei pessoalmente de uma Trilogia do Silêncio. Um conjunto de três belos poemas sobre a dialética entre silêncio e palavra com os títulos de: “A Palavra…

Esperar vale mais que compreender…

Existe uma “quadra de consolo” que recito interiormente nos tempos de dura prova. Quadra de consolo é o modo como chamo algumas palavras que, a exemplo de Drummond, apanho para meu sustento diário. Tomo-as como salvaguarda nos dias em que necessito caminhar sobre o fino gelo das incertezas cotidianas. Para as pequenas e grandes dores que…

Devagar, o Tempo…

“Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. O ódio transforma-se em tempo. O amor transforma-se em tempo. A dor transforma-se em tempo. Os assuntos que julgamos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo. Por si só, o tempo não é nada. A idade de nada é nada. A eternidade não existe. No entanto, a eternidade existe. Os instantes…

O Homem de Cabeça de Papelão (por João do Rio)

“No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social. O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os…

Calabar

“Meu coração tem um sereno jeito, E as minhas mãos o golpe duro e presto. De tal maneira que, depois de feito Desencontrado, eu mesmo me contesto. Se trago as mãos distantes do meu peito, É que há distância entre intenção e gesto. E se o meu coração nas mãos estreito, Me assombra a súbita…