
Uma amiga me surpreende com a imagem de uma orquídea que, serelepe, ousou nascer em sua varanda. Varanda de metrópole com barulho, poluição e um cogumelo atômico prestes a explodir a qualquer segundo. Me recordei de um antigo poema de Drummond (A Flor e a Náusea) que de pronto compartilhei com ela. “Furar o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio” não seria uma bela forma de dar nome ao trabalho do Psicanalista? Também nós não florescemos quando, serenos, insistimos?
A FLOR E A NÁUSEA
(por Carlos Drummond de Andrade)
“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”

