Convite e Agradecimentos

Em tudo o que se pretende arte (ser ou ao menos a ela referir-se) encontramos aventura imprevisível. De todo ofício impossível (analisar, educar, governar… dissertar) não se pode prever senão os começos: como numa enigmática partida de Xadrez em que o desconhecimento do seu termo não elide a necessidade de rigor estratégico para um bom desenrolar.

Uma dissertação não surge pronta. Não reside intacta, suspensa no ar de nossa imaginação como a casa no beco de Manuel Bandeira. Como de uma obra de arte, uma dissertação exige devotado esforço de lapidação.

Como qualquer obra, uma dissertação tem origem incerta. Principia nos fundões do tempo, nos longes de uma infância que nos expulsa e de cima segue a nos assombrar com os mesmos velhos fantasmas. Quando adultos, corremos os mesmos riscos da infância e quando escrevemos – ou artejamos – procedemos com um intuito de morte: de destituir o que nos determina. Falar é matar a Coisa, cometer parricídio…. fazer ciência não é outra coisa senão uma nula tentativa de infanticídio.

É nossa infância que fornece a matéria-prima para a construção de toda Coisa e recolhemos da vida a capacidade com Isso fazer marcha. O cuidado com o manejo dessa matéria bruta – a Pedra da infância – é o mesmo em ciência e arte: ao imprevisível da aventura soma-se a necessidade de bem manejar a Pedra que resiste à ação que a agride. Nesse embate são decisivos o desejo de esculpescrever e a necessidade de contornar os pontos onde a Pedra se recusa. A aceitação do acaso em que consistirá o resultado final é, para o cientartista, a revelação da verdade, a única coisa digna de ocupar a prateleira vazia da vida.

Como o artesão que doma a pedra, o mármore ou o basalto valendo-se das ferramentas adequadas, também eu encontrei amigos que me foram cinzel, pistola, marreta e rebolo. Eu os encontrei na trajetória de minha vida, nel mezzo del camin e foram para mim o que era para Dante a sua Beatriz (quem lhe ensinara o caminho que ia do último círculo do inferno às hostes celestiais). Não na nascente vida, mas bem no meio do caminho. E sempre comigo no caminho de minha vida, a eles aqui, humildemente, agradeço pelo auxílio vário dado desde o desejo de escrisculpir até o auxílio nos momentos de mão na Pedra.

Agradeço…

… a Andréa Echeverria, mecena que me encomendou a escultura, não sem antes assegurar-se de que Pedro era maior que a Pedra.

… a Selma Leitão e a Simone Vasconcelos que foram comigo ao mercado e me ajudaram na escolha de um bom bloco de base, aquele que comportava a célula de uma escultura excelente. Sem elas nada haveria.

… a Thereza Queiroz, Lia da Fonte e Deborah Foinquinos que, no passado, ensinaram-me a usar o cinzel e, no presente, o mantém sempre afiado.

… a Paula Magalhães, Leopoldo Nelson e Clarissa Dubeux que com sua presença amiga representaram a força necessária para segurar a marreta e outrossim a Eliane Nóbrega que, mais que isso, quando a força faltava, a apanhava do chão e dizia: continue.

… a Ana Falbo, que foi todo o necessário no momento mais escuro de minha trajetória.

… a Marlene… por ser Marlene.

… a Danielle Gonçalves e Marylúsia Feitosa, que calaram o alarido do mundo para que eu esculpisse em paz. Sem elas não haveria trabalho ou inspiração.

… a Maninha, no momento da dura prova, quando os críticos incautos disseram que buriti era urubu. A ela agradeço por ensinar a olhar meu trabalho e, proferindo sim numa sala negativa, mostrar que há coisas aladas que têm raízes fincadas no solo.

… a Rinaldo, Wllysses, Sabrina e Olmiro que, simplesmente existindo, me põem em marcha na busca do tempo perdido.

… a Cecília, por me trazer Itabira.

… a Igor, onde quer que esteja, pelo auxílio com a base do rebolo.

… a Gilvan de Macêdo que segurou o tempo e voltou o relógio, numa demonstração de humanidade e companheirismo.

… a Carine, Rosa, Vicente, Tânia, Paula, Elizete, Patrícia, Raphaella, Priscila, Virgínia, Sandra, Fernando, Célia, Ewerson, Manuela, Luciana… fontes inesgotáveis de sorriso, compreensão e acolhimento.

… a João Maria por ter me demonstrado que o trabalho rigoroso anda melhor ao lado do bom humor.

… a Yves que esculpiu com gestos simples e eternos o apreço a modos diferentes de se artejar.

… às Veras (V. Lúcia e V. Amélia), sempre prontas ao auxílio. Agradeço pela paciência e prestatividade, comigo sempre tão exemplares.

… a José Roberto e Socorro Amorim, agradeço emocionado pelas portas abertas de modo irrestrito e instantâneo e a todos os profissionais do CEMPI, por tão bem receberem meu cinzel me fazendo esculpir como se estivesse em minha própria casa.

… agradeço em especial a Fernanda Andrade que, com o brilho de três sóis, iluminou os cantos escuros do meu percurso.

… a Glória Carvalho e Silvia Ferreira pela honra que me dão em corrigir minhas marretadas.

… a Renato Queiroz, Marcus Adams, Danielle Sátiro, Carmita Melo e Sônia Proto por terem sido pétala estendida sobre um chão de ferro.

… a Júlio Macário, João Villacorta e Pedro Xavier, a oficina de escritores ao lado de quem honrosamente pude redescobrir meu estilo. Percorremos lado a lado nosso próprio um a um caminho do desejo de analista.

… a Fernando Mota, escultor Maior, a quem sempre recorria quando me cortava com a Pedra Afiada ou o com as vicissitudes do Cinzel me fazendo sempre uns curativos nas pontas dos dedos ordenando-me prosseguimento.

… a Beatriz Melo que me forneceu bom e belo verniz para o último acabamento e à ação ultraidiomática de Marisa Sampaio que me deu Palavra pra dizer.

… a Germana que tem o poder de fazer nascer em mim a esperança na vida.

… simbolicamente a Mark Zuckerberg em nome de todas as pessoas que, de longe, unidas pelo facebook, contribuíram insuflando fôlego em meu espírito e avaliando criticamente a forma que ia aparecendo neste trabalho.

… a Marina d’Águassis Pinheiro, Ana Paula, Gaio Cruz, Raphael Douglas, Adriano Medeiros, Harim Britto, Angélica, Washington, Wilne, Lídia, Alê, Gabi Albuquerque,André Castelo, Juliana Albuquerque e Jesús Vazquez, todos foram poço de onde brotaram as frescas “águas para fazerem a minha sede” (J. G. R.).

… a Luciane De Conti por me acompanhar na longa jornada. Agradeço seu olhar atento que nunca me deixou manter Pedra demais. Aprendi com ela algo que levo para toda a vida: colaborar com quem apreciará o trabalho não deixando nada afiado com que alguém venha a se cortar no futuro.

… aos leitores do Lituraterre.com galeria onde expunha antes, para rigorosa apreciação, o efeito das lapidações correntes.

… a Intersecção Psicanalítica do Brasil, casa de artesãos, que me recebeu como escultor quando eu tinha ainda dúvida se poderia suportar o peso das ferramentas.

… ao primeiro par de ouvidos que me fez ver que entre dois há algo de barrado a atravessar e me acompanhou na travessia de uma densa nuvem de fantasia.

… ao segundo par de ouvidos que, causando gozo, me faz demandar… mais… ainda.

… a Diva Helena… por tudo!

Agradeço, por fim, à razão…

 

… e mais que a ela à rima…

 

… e mais que à rima ao riso!

2 comentários Adicione o seu

  1. Marylúsia Feitosa disse:

    Muito obrigada pela gentil menção ao meu nome. Fico orgulhosa por isso. Que este trabalho lhe retorne o sonho mais profundamente desejado e que doravante a vida só lhe proporcione muitos e valorosos prazeres. Parabéns.

    1. Pedro Gabriel disse:

      Grato pelas belas palavras lidas nessas últimas horas de preparo. Elas insuflaram ânimo em minha alma. Tudo há de correr bem. Obrigado pelo apoio de sempre.

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