“Dorme ruazinha… É tudo escuro… E os meus passos, quem é que pode ouvi-los? Dorme teu sono sossegado e puro, Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos… Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro… Nem guardas para acaso perseguí-los… Na noite alta, como sobre um muro, As estrelinhas cantam como grilos… O vento está dormindo…
Categoria: Poesia
Eu, etiqueta (por Carlos Drummond de Andrade)
“Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome… estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas…
Os Justos (por Jorge Luis Borges)
OS JUSTOS ——————————– Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire. O que agradece que na terra haja música. O que descobre com prazer uma etimologia. Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez. O ceramista que premedita uma cor e uma forma. O tipógrafo que compõe bem esta…
Círculo Vicioso (por Machado de Assis)
“Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume: – Quem me dera que fosse aquela loura estrela, que arde no eterno azul, como uma eterna vela! Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme: – Pudesse eu copiar o transparente lume, que, da grega coluna á gótica janela, contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela! Mas a…
Poesia, Conforto, Família
Eis que minha família aumenta. Com os olhos iluminados de menino que encontra um brinquedo, descobri um novo poeta. Fagundes Varela, o “solitário imperfeito” no epíteto dado por Drummond, me chegou por meio de um texto do próprio Carlos em um comentário à sua poesia em que o anuncia não somente como um poeta que…
O Dia da Criação e a Diferença Sexual
Em nossa primeira infância somos surpreendidos pelo que Freud chamava de penisneid, ou seja, a simbolização da diferença corporal entre menino e menina ou, trocando em miúdos, a incorporação psíquica do que no real da carne surge como não coincidente entre as duas possíveis modalidades de corpo. Os corpos de homens e mulheres não são…
Tema e Voltas (por Manuel Bandeira e Edward Munch)
“Mas para quê tanto sofrimento, se nos céus há o lento deslizar da noite? Mas para quê tanto sofrimento, se lá fora o vento é um canto na noite? Mas para quê tanto sofrimento, se agora, ao relento, cheira a flor da noite? Mas para quê tanto sofrimento, se o meu pensamento é livre na…
Vinícius, Poeta do Encontro (por Otto Lara Resende)
“Homem de bem com a vida, a favor da vida. A quem a vida nada se nega. Criador de um lirismo em prosa e verso, falado e cantado, e sempre de exaltação a vida. A canção em Vinícius nasce de um encontro, não vem de um conflito. Encontro consigo mesmo, com o outro, com sua cidade….
Balada do Rei das Sereias (por Dorival Caymmi e Manuel Bandeira)
“O rei atirou Seu anel ao mar E disse às sereias: – Ide-o lá buscar, Que se o não trouxerdes Virareis espuma Das ondas do mar! Foram as sereias, Não tardou, voltaram Com o perdido anel Maldito o capricho De rei tão cruel! O rei atirou Grãos de arroz ao mar E disse às…
A Flor e a Náusea (por Drummond)
Uma amiga me surpreende com a imagem de uma orquídea que, serelepe, ousou nascer em sua varanda. Varanda de metrópole com barulho, poluição e um cogumelo atômico prestes a explodir a qualquer segundo. Me recordei de um antigo poema de Drummond (A Flor e a Náusea) que de pronto compartilhei com ela. “Furar o asfalto, o…
