“Já Marília cruel, me não maltrata saber que usas comigo de cautelas, qu’inda te espero ver por causa delas, arrependida de ter sido ingrata Com o tempo, que tudo desbarata, teus olhos deixarão de ser estrelas; verás murchar no rosto as faces belas e as tranças d´oiro converter-se em prata. Pois se sabes que a…
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A Pedra e o Viúvo
Drummond entra na poesia com seu brilhante Alguma Poesia cuja publicação, datada de 1930, foi custeada com economias próprias. Nele ouve-se retumbante seu magnífico No meio do caminho, de longe, o poema dono da mais extensa fortuna crítica de nossa literatura. Mesmo estreante, o Gauche Itabirano não era propriamente um desconhecido ao quebrar seu cofre-porquinho…
O Medo (por Drummond)
“Em verdade temos medo. Nascemos no escuro. As existências são poucas; Carteiro, ditador, soldado. Nosso destino, incompleto. E fomos educados para o medo. Cheiramos flores de medo. Vestimos panos de medo. De medo, vermelhos rios Vadeamos. Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos. Há as árvores, as fábricas, Doenças galopantes, fomes. Refugiamo-nos no amor,…
Mascarada (por Manuel Bandeira)
“Você me conhece? (Frase dos mascarados de antigamente) – Você me conhece? – Não conheço não. – Ah, como fui bela! Tive grandes olhos, que a paixão dos homens (estranha paixão!) Fazia maiores… Fazia infinitos. Diz: não me conheces? – Não conheço não. – Se eu falava, um mundo Irreal se abria à tua visao!…
O Terceiro Frio da Rússia
“- Te levo comigo”, disse Ribamar sob o frio implacável do inverno moscovita. Nevava fortemente sobre a capital e sob os enamorados se avolumava um pesado e branco manto de uma transparência alva que, em verdade, os iria enlutar. A lua alta era uma sentinela de olho vigilante a interrogar-se sobre o desfecho de tal…
Poeminha Sentimental (por Mario Quintana)
“O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas… De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!) Canta e vai-se embora Outra, nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô…
O Elixir do Amor (fragmento)
“Belo repouso o do ceifeiro! Quando o sol mais ferve e escalda, sob uma faia, aos pés de uma colina, repousar e respirar! O vivo ardor do meio-dia é apaziguado pelas sombras e pelos rios que correm; mas a chama ardente do amor nem sombra, nem rio podem apaziguar. Afortunado seja o ceifeiro que dele…
Aos Namorados do Brasil (por Drummond)
“Dai-me, Senhor, assistência técnica para eu falar aos namorados do Brasil. Será que namorado algum escuta alguém? Adianta falar a namorados? E será que tenho coisas a dizer-lhes que eles não saibam, eles que transformam a sabedoria universal em divino esquecimento? Adianta-lhes, Senhor, saber alguma coisa, quando perdem os olhos para toda paisagem , perdem…
Porquinho-da-Índia (por Manuel Bandeira)
“Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração eu tinha Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos, Ele não se importava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas… – O meu porquinho-da-índia…
Necrológio dos Desiludidos do Amor (por Drummond)
“Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito. Do meu quarto ouço a fuzilaria. As amadas torcem-se de gozo. Oh quanta matéria para os jornais. Desiludidos mas fotografados, escreveram cartas explicativas, tomaram todas as providências para o remorso das amadas. Pum pum pum adeus, enjoada. Eu vou, tu ficas, mas nos veremos seja no…